10/09/2009

Subindo a Escada... (no que eu acredito?)

Uma vez uma pessoa me perguntou em que eu acreditava. Na hora eu não respondi nada significativo, ou mesmo coerente. Lembro da expressão de desapontamento velado que essa pessoa me devotou.

Existe uma expressão em francês: L’Esprit d’Escalier. O espírito da escada. Acho que não há palavra correspondente em nossa língua. É tipo, bom, as coisas inteligentes que a gente só pensa em dizer depois que se mandou. Todas as coisas bacanas que queria ter dito na hora.Então, eu estava subindo a escada aqui de casa e pensando:

Posso acreditar em coisas que são verdade e posso acreditar em coisas que não são verdade. E posso acreditar em coisas que ninguém sabe se são verdade ou não. Posso acreditar no Papai Noel, no coelhinho da Páscoa, na Marilyn Monroe, nos Beatles, no Elvis e em Shakespeare. Ouça bem... eu acredito que as pessoas evoluem, que o saber é infinito, que o mundo é comandado por cartéis secretos de banqueiros e que é visitado por alienígenas regularmente – uns legais, que se parecem com lêmures, e outros maldosos, que mutilam gado e querem nossa água e nossas mulheres. Acredito que o futuro é um saco e que é demais. Acredito que todos os políticos são uns canalhas sem princípios, mas ainda assim melhores que as outras alternativas. Acredito que sabonetes anti-bactericidas estão destruindo nossa resistência à sujeira e às doenças, de modo que algum dia todos seremos dizimados por uma gripe comum. Acredito que os maiores escritores do século passado foram Robert E. Howard, Tolkien, e John Steinbeck, e que jade é esperma de dragão cristalizado. Que numa vida passada eu fui um cavaleiro templário de um braço só que trocou a guerra por uma mulher, e que em outra eu me isolei numa floresta e morri de inanição perto de uma árvore de maçãs. Acho que o destino da humanidade está escrito nas estrelas, que o gosto dos doces era mesmo melhor quando eu era criança, que aerodinamicamente é impossível para uma abelha voar, que a luz é uma onda e uma partícula, que tem um gato em algum lugar dentro de uma caixa que está vivo e morto simultaneamente – apesar de que se não abrirem a caixa e alimentarem ele, o gato só estará morto de duas maneiras diferentes. Que o amor existe mesmo Que existem estrelas no universo bilhões de anos mais velhas que o próprio universo, que existem formas de vida imortais que sobreviveram a destruição do universo que veio antes do nosso. Acredito em um Deus pessoal que cuida de mim e que supervisiona tudo que eu faço, em um Deus impessoal que nem sabe que eu existo, que criou o universo e foi resolver seus próprios problemas. Acredito em um universo sem Deus, um universo de caos causal, em um passado tumultuado e pura sorte cega.

Em suma, eu acredito em tudo!...

E você no que acredita?